dezembro 01, 2009

estranho amor...

(pintura de SaraVieira, minha filha)


Lembro
os trilhos
descobertos a dois

Lembro
as tuas mãos nas minhas
em concha perfeita e polida

Lembro
os teus olhos de mel
a beijar-me a boca dentro
em mim

Lembro
os dias de chuva
e tu
a fazeres-te gruta para mim
e eu resguardando-me em ti
a fazer-me prenda
surpresa
o teu corpo a fazer-se meu
Inventávamos então o tempo
e as palavras faziam-se nos beijos
Lembro
as tuas mãos suaves nos meus olhos
o teu corpo ardente
sedento
gemia
no meu
e eu feita carne
maré
sol e estrela nua
acolhia-te sequiosa
a dar-me de espanto em espanto
de encanto em encanto
Lembro
Esse tempo de tudo
menos de futilidades
Estranho amor
Dentro dele
só nós bastavamos para nos fazermos felizes
Lembro
Ainda hoje carrego coisas tuas
e tu coisas minhas
É mentira
nunca nos dissemos adeus
No meu peito
no meu corpo
tu habitas
sempre
És assim a minha falta
sou assim a tua falta
conservada no tempo
muito para além do que nos separou
Eu fiquei com o teu aroma na minha pele
tu ficaste com o meu sabor na tua boca
Estranho amor
este
que em dias de tormenta
ainda
guardamos nos bolsos das capas
junto ao coração
Estranho amor
este
que tem madrugadas
ainda
hoje agendadas
Eu sinto
Tu sentes
Eu conto
Tu contas
Estranho amor
este
sem fim
que queremos
mesmo assim
neste nosso sentir sem fim

O amor fez-se para isto
baralhar os dias e as noites
e amarmos como gostamos



(Maria)




1 comentário:

Vento Nocturno disse...

Não há como dizer adeus a um grande amor.

Beijo grande