março 30, 2011

para ti, minha amiga Lia




meia volta e tu estavas
ao dobrar da esquina.
eu ainda
a segurar nos olhos o luto espantado de menina.
soltaram-se os risos suspensos,
há mil anos e outros
mais aquele abraço que não se mede em anos.
foi assim.
as palavras ainda afundadas em silenciosos rios,
o Inverno dolorido a vestir-se de Verão.
ali mesmo,
naquela desnuda esquina.
reminiscências de nós,
numa espécie de nós,
antes saudade,
então eternidade,
a clamar
não há morte que mate o que gente sente.
foi assim.
e os olhos a serenarem
e o tempo voraz,
feito pequenino, a deixar-se quieto,
ali,
na nossa esquina.
foi assim.
e os risos por fim a galgar as margens
e um vento ligeiro a afagar a esquina.
e o odor verde de relva fresca,
de repente, a perfumar a esquina.
é sim,
para sempre,
dissemos nós.

(maria)

Imagem: The Sisters by Frank W. Benson

março 03, 2011

faltas-me tu



(de April Gornik storm of sea)
 

falta sol na minha varanda
falta também a varanda
faltas-me tu

partiste sem dizer nada
de madrugada
e do lado de cá
fiquei eu
questionando estrelas
indagando luas
agora tuas

e a vida adiante
sempre
as estrelas oscilando mudas
as luas desabando nuas
nas minhas ruas

em ritmo de espera
conto
reconto
o tempo na tua ausência
e deslizo
fundo
nas franjas líquidas das saudades

porque
falta sol na minha varanda
falta também a varanda
faltas-me tu
mãe


(maria)