Olhou-a. Os cabelos brancos a esgueirarem-se desgovernados por entre o loiro tingido. As unhas pintadas acenavam como cartão de visita.
O fato, apertado, a fazer-lhe recordar um outro corpo esguio de há uns anos atrás, que se passeava triunfante, a prometer promessas em soltas vagas. No braço, balançava-se festiva a mala cara de pele castanha, brilhante, maliciosa nas suas muitas fivelas douradas.
Olhou-a nos olhos. Não conseguia lembrar-se do nome dela.
E os olhos dela não diziam senão cansaços.
- tudo bem contigo?
- sim, tudo... - há quanto tempo!
- pois, uma eternidade...
Uma fugaz rajada de vento levantou-se e as folhas das árvores soltaram-se e redopiram tontas em redor delas.
Disseram adeus, que gostaram de se terem reencontrado. Aquela eternidade havia cavado fossos irrecuperáveis e não havia nada mais a dizerem-se. Nem queriam, preocupadas que estavam em distanciarem-se.
Partiram em direcções diferentes, em tempos diferentes, talvez a pensarem como medir eternidades.
A desviarem os olhares das montras espelhadas.
No céu, as nuvens paradas, desocupadas, estavam por estar e a noite começara a vigiar o dia.
(maria)
(imag: quadro da pintora francesa Mo.d)